Cardume – jovens de Rabo de Peixe levam ritmo e movimento corporal ao palco
O espectáculo de dança contemporânea, sob orientação da coreógrafa Filipa Francisco, denominado Cardume, com os 37.25 - Núcleo de Artes Performativas, cujo talento dos seus jovens bailarinos açorianos brilharam no mais importante palco do Teatro Micaelense, o ano passado, foi transportado para a cena do Cine-Teatro Mira-Mar, em Rabo de Peixe.
Os cheiros e sons de Rabo de Peixe, foram tão bem recriados pela bailarina Catarina Medeiros, que teve a coragem de levar jovens a representar vivências e costumes seculares tão típicos daquela vila micaelense. Os intérpretes não foram os talentosos jovens bailarinos habituados às luzes e aos palcos, mas aqueles que integram as valências sociais da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande Porto Seguro e Espaço Extremo.
O Espaço Extremo é uma estrutura, coordenada por Emanuel Brilhante e destina-se ao acompanhamento de jovens dos 12 aos 15 anos, que se encontram em risco ou situação de exclusão social e tem como principais vectores de actuação o combate ao absentismo escolar; prevenção face ao risco de ingressar em trajectórias do desenvolvimento desadaptativas rumo ao consumo de substâncias psicoactivas ou outros agentes indutores de condutas desviantes e visa a promoção do desenvolvimento motor, psicossocial, cognitivo e afectivo.
Por seu lado, o Porto Seguro é coordenado Por Joana Nunes que acompanha jovens dos 15 aos 21 anos que se encontrem em risco ou em situação de exclusão social. Esta valência pretende proporcionar apoio á integração social do jovem de acordo com as suas características pessoais e procurando despistar e diagnosticar os aspectos mais carenciados de intervenção em termos de saúde, equilíbrio psico-afectivo, socialização e escolarização.
Foi neste contexto que a bailarina Catarina Medeiros, num trabalho notável conseguiu a proeza de levar aqueles jovens a entregarem-se a cada movimento artístico carregado de um contexto cultural e social muito próprio de Rabo de Peixe.
Momentos dramáticos vivenciados pela vida de ser pescador, num improvisado monólogo de Décio Vieira ou hilariantes em que os jovens se atiram ao mar e vão buscar os seus pares para dançarem o balho da despensa, num arraial imaginado numa graciosa dança colorida, o viver por vezes doloroso de quem busca na pesca o sustento para si e para os seus.
Estão de parabéns os jovens Alexandre Estrela, Décio Vieira, Diogo Amaral, Filipinho Silva, Francisco Botelho, Inácio Andrade e Xavier Andrade, pelo espetáculo que foi fruto de um trabalho aturado de ensaio e preparação, pois esmeraram-se na interpretação de cada uma das vivências de Rabo de Peixe.
Só o talento de Catarina Medeiros poderia conseguir levar um grupo de jovens a imprimir ritmo e movimento corporal de dança em cima do palco do Cine Mira-Mar, dando vida entre vozes e a gritaria da miudagem que transportava a plateia para o Rabo de Peixe profundo.
Um trabalho que foi uma aposta da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande a acolher a jovem dançarina Catarina Medeiros no seu período de estágio e "Cardume” foi seguramente um enorme contributo para a promoção e dignificação do povo de Rabo de Peixe e incentivo para a integração social dos jovens intérpretes. |